Memórias do esquecimento – A efervescência de São Lourenço do Sul nos tempos da ditadura (2021)

Brasil (RS)
Longa-metragem | Não ficção
cor, 119 min

Direção: Gabriela Schmalfuss Borges, Pedro Henrique Farina Soares.
Companhia produtora: Vozes em Movimento

Primeira exibição: YouTube, disponível desde 28 mar 2021, dom

 

Memórias do esquecimento – A efervescência de São Lourenço do Sul nos tempos da ditadura resgata a história e marcas daquele período. São Lourenço do Sul fica a 198 km de Porto Alegre. "Como em muitas cidades interioranas, uma parcela da população guarda tabus e silenciamentos, para evitar ficar mal perante aqueles que detêm mais que o poder patrimonial, o próprio poder simbólico dentro da comunidade. Nesse sentido, a efervescência política e cultural durante o período da ditadura civil-militar costuma ser pouco explorada em nosso contexto e, na verdade, até mesmo esquecida. Por isso o nome Memórias do esquecimento, título do livro do jornalista Flávio Tavares", explica o advogado Pedro Henrique Farina Soares, codiretor com a jornalista Gabriela Schmalfuss Borges. Ambos fazem parte do Vozes em Movimento, coletivo que atua em São Lourenço do Sul desde 2015 na produção e divulgação de conteúdo de caráter independente, promovendo também eventos culturais, como cinedebates, rodas de conversa e saraus temáticos. Outro documentário da dupla é Mulheres (in)visíveis – A opressão e a luta das mulheres do campo de São Lourenço do Sul – RS (2021), lançado em 14 de fevereiro. Os dois foram financiados pela Lei Aldir Blanc. Todavia a relevância do tema, há problemas de enquadramento, quando por exemplo um casal é entrevistado online e a entrevista é gravada na vertical, provavelmente por um celular. O resultado é que não se vê os personagens, eles ficam cortados ao meio.

De acordo com os idealizadores, o documentário, buscou, dentro de seus limites, estabelecer uma espécie de "comissão da verdade" do pequeno município, localizado às margens da Lagoa dos Patos e cerca de 60 km distante de Pelotas. Para a realização, a produção entrevistou 16 pessoas que contribuíram dentro de suas realidades, seja no movimento estudantil, no cenário cultural ou no ambiente político, para fortalecer a cultura e o debate na cidade entre os anos de 60, 70 e 80, período de forte restrição das liberdades individuais e coletivas. Também foram consultados arquivos históricos, como documentos do Arquivo Nacional, jornais da Biblioteca Municipal e livros sobre a história do município, além de fotografias e áudios de programas de rádios cedidos pelos entrevistados.

Sinopse


Epígrafe: // "O passado não é aquilo que passa, é aquilo que fica do que passou". Alceu de Amoroso Lima (Tristão de Athayde). Retirado do livro Memórias do esquecimento, de Flávio Tavares, obra que inspirou o título deste documentário. //

Créditos iniciais [cartela]: // Este documentário foi desenvolvido no início de 2021, durante a pandemia de covid-19. Por essa razão, muitos dos entrevistados usavam máscaras. Quando da sua conclusão, mais de 300 mil pessoas já haviam morrido em decorrência da doença no Brasil. //

Depoimentos, alguns online, entremeados com material de arquivo como fotografias, jornais, documentos e áudios.
Cartelas: // São Lourenço do Sul, região sul do Rio Grande do Sul. Distante 200 km de Porto Alegre e 70 km de Pelotas. Aproximadamente 44 mil habitantes (IBGE). / Prédio à Rua Cel. Alfredo Born, 147. Em 1964 era utilizado para interrogatório e detenção de agentes políticos. / Fotografias: Brizola. / O Grupo dos Onze foi criado por Leonel Brizola em 1963. Eram núcleos presentes em várias cidades, com o propósito de mobilizar a população para defender o governo de João Goulart e sustentar um programa nacionalista em prol das reformas de base. / Terras devolutas são terras públicas sem destinação pelo poder público e que em nenhum momento integraram o patrimônio de um particular, ainda que estejam irregularmente sob sua posse. / Fotografia: Leonel Brizola e Darcy da Rosa. / Prédio à Rua Cel. Alfredo Born, 202. Antiga agência Banco do Brasil e atual Prefeitura Municipal. / Em 1964 um helicóptero militar pousou na área detrás do prédio. Pelo menos 11 agentes políticos, que defendiam o governo do presidente João Goulart foram presos. / General João Baptista Brauner, prefeito de São Lourenço do Sul entre os anos de 1955 e 1959. Era opositor político de Darcy da Rosa. / Fotografias: Hospital Psiquiátrico São Pedro, Porto Alegre / RS. Pessoas perseguidas durante a ditadura eram "internadas" no local. (Fotos Simers). /
Documento: / Declarações prestadas por João Soares Serpa (Dedê Serpa), João Salles Crespo e Luiz Antônio Abreu de Moraes, nas quais o nome de Darcy da Rosa aparece. Os documentos estão disponíveis de maneira pública no site do Arquivo Nacional. / Darcy da Rosa, assim como muitas lideranças políticas que apoiavam o governo de João Goulart e de Brizola na região de Pelotas e Rio Grande, foi perseguidor, preso e investigado sumariamente após março de 1964. Foi vereador eleito pelo PTB em São Lourenço do Sul / RS. / Verzulino de Oliveira era militar e também apoiava o governo de João Goulart e de Brizola. Foi perseguido, preso, investigado sumariamente e "internado" no Hospital Psiquiátrico São Pedro após março de 1964. / Após prisão, fotos e documentos de Verzulino foram misteriosamente furtados. Os poucos registros que restavam foram perdidos por Jussara durante a enxurrada que assolou São Lourenço do Sul em 2011. / Darcy da Rosa foi um dos fundadores dos CTGs Sepé Tiaraju em São Lourenço do Sul, Sentinela da Armada em Canguçu e Sinuelo da Cultura em Cristal. /
Prédio à Rua Júlio de Castilhos, 2222. Antiga sede da ULE [União Lourenciana de Estudantes] e atual Cooperativa de Estudantes. / Fotografias coloridas: Integrantes e colaboradores na frente da sede da ULE. / Júlio Cardoso, Ruy Touguinha, Inácio Luiz B. Soares, Laurence Duarte Colvara e Theobaldo Klumb após finalizarem um programa radiofônico da ULE no início da década de 70. / A ULE foi fundada em 30 de março de 1964. / Fotografia colorida: Renato Nickhorn, presidente da ULE e liderança estudantil em São Lourenço do Sul. /
DOI-CODI: Destacamento de Operação Interna-Centro de Operações e Defesa Interna. Tinha como objetivo garantir a segurança nacional a partir do controle das informações e da repressão aos opositores da ditadura. / DOPS: Departamento de Ordem Política e Social. Tinha o objetivo de prevenir e combater crimes de ordem política e social que, em tese, colocariam em risco a segurança do Estado. / Fotografia: Prédio da Sociedade Recreativa XV de Novembro à Rua Júlio de Castilhos, 2.214. Era conhecido como o "Clube dos Negros". /
Informação retirada do livro São Lourenço do Sul – Radiografia de um município – Das origens ao ano 2000, de Edilberto Luiz Hammes: "Em meados do ano de 1959, passou a exercer as funções de delegado de polícia, João Manuel Mena Barreto, formado na primeira turma da Escola de Polícia de Porto Alegre (hoje denominada Academia de Polícia). Entre 24 de outubro de 1960 e 26 de junho de 1964.foi delegado Firmino Peres Rodrigues, colega de Mena Barreto, também formado naquela primeira turma". /
No começo da década de 60, São Lourenço do Sul teve a atuação de dois delegados de polícia diretamente ligados ao desenrolar de acontecimentos da ditadura civil-militar no RS. / Firmino Peres Rodrigues atuou como delegado de polícia em São Lourenço do Sul durante aproximadamente 4 anos. Foi chefe do DOPS do RS no início da década de 70 e um dos 377 agentes públicos mencionados no Relatório da Comissão Nacional da Verdade. /
Do livro: "Firmino Peres Rodrigues (1931) – Delegado de polícia no Rio Grande do Sul, chefiou o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) na década de 1970, quando o órgão se envolveu com detenção ilegal, tortura e execução". /
João Manoel Menna Barreto atuou como delegado de polícia de São Lourenço do Sul por aproximadamente um ano. / Ao contrário de Firmino, sofreu perseguição política e foi demitido do cargo em outubro de 64, após ser acusado de ser um dos organizadores do Grupo dos Onze de Brizola na cidade de Rio Grande / RS. /
Antiga Loja Casa das Novidades ficava na esquina entre a Rua Coronel Alfredo Born e a Av Marechal Floriano Peixoto. / Foto: O grupo "Os Cheyennes" teve destaque em várias regiões do estado do RS. Surgiu em 1967 e acabou em 1975. / Prédio à Rua Senador Pinheiro Machado,100. Antigo local em que funcionava a Prefeitura Municipal e a Câmara de Vereadores de São Lourenço do Sul / RS. /
Pedro Tomaschwski (ARENA) foi prefeito entre 1969 e 1972. Durante o mesmo período foram vereadores pelo MDB, Enos Ziebell, Francisco Duarte e Vitor Hugo Hoff e, pela ARENA, Arita Hübner (Bergmann, atual sec. de Saúde do RS) Carlos Westendorf, Ivo Schmalfuss, Helmuth Coswig, Leopoldo Gehrke e Ruy Wetzel. / Foto: Arthur Kraft foi vereador pelo PTB. Candidato a prefeito em 3 oportunidades, perdeu todos os pleitos. /
Não há qualquer ata no site do TRE / RS sobre as eleições municipais de 1963. Das 150 cidades gaúchas registradas pelo censo de 1960 do IBGE, apenas 5 preservam os dados. / O sumiço de tais documentos ocorreu a nível nacional em uma provável "queima de arquivos" por conta das diversas cassações de mandatos de prefeitos após 31 de março de 1964. /
Hospital de São João da Reserva, interior de São Lourenço do Sul / RS. / Em 1979 o operário portoalegrense Juarez da Silva foi encontrado em um dos quartos do hospital acorrentado e machucado. O caso ganhou repercussão nacional. Foi instaurada CPI na Assembleia do RS para investigar possível perseguição política. / Nota de jornal: Mistério gaúcho – A polícia socorreu ou espancou o marginal? – Ele apareceu ferido e algemado e depois sumiu. Sérgio Becker, de Porto Alegre. /
Prédio à Rua XV de Novembro, 302, atual Biblioteca Pública Municipal. / Em 1973, por meio de decreto 291 do então prefeito João Henrique Thofehrn, a Biblioteca passou a se chamar Mal. Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiro militar a assumir o governo federal no período da ditadura (1964-1967). / Em 2016, passados 31 anos da redemocratização, a Biblioteca passou a se chamar Professora Elida Frömming Schild. /
Música composta pelo desembargador do Tribunal de Justiça do RS Rui Portanova em homenagem ao cantor, compositor e diretor de teatro chileno Victor Jara, torturado e assassinado no Estádio Nacional em Santiago 5 dias depois do golpe de Pinochet. // 2012. 1975. Diploma de bacharel em Comunicação Social, área de especialização: Jornalismo, de Inácio Luiz Barbosa Soares, Pelotas, UCPel, 22 dez 1975. // 1975. 2012. Diploma de bacharel em Direito, de Pedro Henrique Farina Soares, Pelotas, 22 dez 2012. // Arquivo: / Exatos 37 anos depois, no mesmo Theatro Guarany em Pelotas / RS, Pedro Henrique Farina Soares, filho de Antônio Carlos e sobrinho de Inácio Luiz proferiu discurso enquanto orador de sua turma de Direito. / Não houve qualquer censura ou análise prévia ao discurso. / *Frase de Fernando Birri: Que nunca deixemos de caminhar!

Ficha técnica


IDENTIDADES
Ordem de identificação:
Jairo Scholl Costa (advogado, escritor e historiador, 69 anos),
Airton Fernando Iepsen (técnico mecânico, mestrando em história UFPEL, 64 anos),
Antônio Carlos Barbosa Soares (economiário aposentado, 65 anos; online),
William Seewald (arquiteto e urbanista, 63 anos),
Jussara Maria Pedrollo (professora de idiomas, 66 anos),
Clara da Rosa (técnica ambiental, filha de Darcy da Rosa, 67 anos),
Vitor Hugo Hoff (vereador 1968 / 1972 e advogado, 75 anos),
Jussara Cavalheiro (bacharel em direito e servidora pública, filha de Verzulino de Oliveira, 63 anos),
Laurence Duarte Colvara (professor universitário aposentado, 66 anos; online),
Theobaldo Klumb (radialista e técnico em mecânica, 68 anos),
Adão Quevedo (poeta, compositor e músico, 70 anos),
Vera Macedo (mestra Griôt, militante do Movimento Negro, 64 anos),
João Ari Kath (professor, 64 anos),
Ênio Presser (pastor emérito da IECLB, atuava em São João da Reserva em 1979, 79 anos; online),
Marta Iepsen (professora, filha de Hubert Iepsen, um dos fundadores do PT em São Loureço do Sul / RS, 49 anos),
Soeli Presser (professora, 70 anos; online).
Não creditados: Pedro Henrique Farina Soares, Gabriela Schmalfuss Borges (diretores, em frente à tela do computador gravando as entrevistas online).
Arquivo: Pedro Henrique Farina Soares (filho de Antônio Carlos e sobrinho de Inácio Luiz, em 22 dez 2012).

DIREÇÃO
Direção: Pedro Henrique Farina Soares, Gabriela Schmalfuss Borges.

ROTEIRO
Roteiro: não creditado.

PRODUÇÃO
Produção: Pedro Henrique Farina Soares, Gabriela Schmalfuss Borges.

FOTOGRAFIA
Direção de fotografia: não creditado.

SOM
Som direto: não creditado.

MÚSICA
Músicas:
• "Tomorrow"por Benjamin Tissot // www.bensound.com
• "Instinct" por Benjamin Tissot // www.bensound.com
• "Eu vou te infernizar" (Rui Portanova)

ARQUIVO
Materiais consultados:
Arquivo de jornais da Biblioteca Pública Municipal Professora Elida Frömming Schild (São Lourenço do Sul).
Arquivo Público da Prefeitura Municipal de São Lourenço do Sul.
Livro: HAMMES, Edilberto Luiz. São Lourenço do Sul – Radiografia de um município – Das origens aos anos 2000 – vol. 1, 2, 3 e 4.
Todos documentos tidos como confidenciais e sigilosos, referentes às denúncias e procedimentos de perseguições política foram retirados do Sistema de Informações do Arquivo Nacional, mantido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo brasileiro que podem ser consultados em: sian.an.gov.br.
Áudios: Programa ULE Realizações 72.

FINALIZAÇÃO
Edição: Pedro Henrique Farina Soares, Gabriela Schmalfuss Borges.

EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS

MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: Vozes em Movimento (São Lourenço do Sul).
Financiamento (BR/RS): Recursos da Lei Aldir Blanc Lei nº 14.017/2020 / Secretaria Especial da Cultura / Ministério do Turismo / Governo Federal – Brasil – Pátria amada, por meio da Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto / Prefeitura Municipal de São Lourenço do Sul. Proponente: Pedro Henrique Farina Soares.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos: Airton Fernando Iepsen, Antônio Carlos Barbosa Soares, Clara da Rosa, Ênio Presser, Jairo Scholl Costa, João Ari Kath, Jussara Cavalheiro, Jussara Maria Pedrollo, Laurence Duarte Colvara, Marta Iepsen, Soeli Presser, Theobaldo Klumb, Vera Macedo, Vitor Hugo Hoff, William Seewald.
Agradecimentos especiais:
Ana Luiza Timm Soares – Documentos de Inácio Luiz Barbosa Soares.
Tamara Oswald – Auxilio na busca de documentos junto ao site do Arquivo Nacional.
Theobaldo Klumb – Áudio de programas, fotos e documentos da ULE.

Dedicatória: Dedicado à memória de Inácio Luiz Barbosa Soares. Trabalhou como jornalista nos jornais Agora, Folha da Manhã, Jornal de Brasília, O Estado de S. Paulo, Gazeta Mercantil. Faleceu em 17 de novembro de 1988, 43 dias após ter completado 37 anos em 5 de outubro, data da promulgação da Constituição Federal e do alvorecer da democracia no Brasil. Enquanto orador, teve o seu discurso de formatura de Jornalismo censurado. Nunca pôde votar para presidente.
E a todos aqueles que dentro de suas realidades contribuíam para fortalecer a cultura, o debate e a liberdade em nosso país.

FILMAGENS
Brasil / RS, em São Lourenço do Sul.

ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: 1:58:30 (YouTube)
Som:
Imagem: cor
Proporção de tela: 1.85
Formato de captação:
Formato de exibição:

DIVULGAÇÃO

DISTRIBUIÇÃO
Classificação indicativa:
Contato:

OBSERVAÇÕES
Filme sem créditos de equipe técnica. Funções como produção e edição são provenientes da página do filme no YouTube, postado pelo coletivo Vozes em Movimento.

Grafias alternativas:

BIBLIOGRAFIA

Exibições


• YouTube, disponível desde 28 mar 2021, dom

Como citar o Portal


Para citar o Portal do Cinema Gaúcho como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
Memórias do esquecimento – A efervescência de São Lourenço do Sul nos tempos da ditadura. In: PORTAL do Cinema Gaúcho. Porto Alegre: Cinemateca Paulo Amorim, 2024. Disponível em: https://www.cinematecapauloamorim.com.br//portaldocinemagaucho/1312/memorias-do-esquecimento-a-efervescencia-de-sao-lourenco-do-sul-nos-tempos-da-ditadura. Acesso em: 19 de maio de 2024.