Campo grande é o céu (2022)

Brasil (RS)
Longa-metragem | Não ficção
cor, 70 min

Direção: Bruna Giuliatti, Jhonatan Gomes, Sérgio Guidoux.
Companhia produtora: Meio do Mundo Filmes; Ponto de Cultura do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mostardas

Primeira exibição: Gramado (RS), 50º Festival de Cinema de Gramado [12-20 ago]-Mostra Competitiva Longa-metragem Gaúcho, Palácio dos Festivais, 15 ago 2022, seg, 14h

 

Dirigido por Bruna Giuliatti, Jhonatan Gomes e Sérgio Guidoux, Canto grande é o céu foi gravado em três comunidades quilombolas: Beco dos Colodianos, Casca e Teixeiras, no município de Mostardas, na península do litoral norte do Rio Grande do Sul. Trata-se do registro de Ternos de Santos, festejo tradicional da região e retrata a música e territorialidade dos agrupamentos no estado.

Além das cantorias, o documentário revela outros aspectos como o plantio das sementes tradicionais de milho catete e feijão miúdo. As imagens foram captadas durante maio e agosto de 2021. Apesar do Terno de Reis ser o mais conhecido, as comunidades tradicionais realizam também os de Santo Antônio, São Pedro e São João, em seus respectivos dias. Os instrumentos característicos são gaita, violão, tambor e pandeiro. Na comunidade da Casca, a única do município onde está viva essa tradição, canta-se, inclusive, o Terno de Santana.

Conforme explicam os cineastas, a fazenda que ocupava a região da Casca pertencia à Quitéria Pereira do Nascimento, que, em 1825, deixou em testamento a doação das terras à pessoas escravizadas que ali trabalhavam. Apenas em 2010 as famílias remanescentes conquistaram a titularidade de uma parte delas e constituíram a primeira comunidade quilombola rural a obter este reconhecimento no RS.

Durante a pesquisa para o filme, descobriu-se que diversas fazendas e empresas ainda são autuadas pela Delegacia Regional do Trabalho e pelo Ministério Público do Trabalho por acusações de trabalho análogo à escravidão na região. Em 2014, uma fazenda escravocrata foi punida e parte da pena foi direcionada para a construção da sede social da comunidade quilombola Dona Quitéria da Casca. Ao final da projeção, cartelas informam que as três comunidades retratadas discutiam a reparação de novos pedaços de terras. Beco dos Colodianos ocupava 430 hectares, mas queria a reparação de 2.800; Teixeiras tinha 500 hectares mas buscava um acréscimo de 4.000; Dona Quitéria da Casca possuía 1.600 hectares mas desejava ter um adicional de 600.

A realização é do Ponto de Cultura do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mostardas, com produção da Meio do Mundo Filmes de Porto Alegre. O projeto foi executado pela Edital Criação e Formação Diversidade das Culturas, realizado com recursos da Fundação Marcopolo – Lei Aldir Blanc Lei nº 14.017/2020. O Ponto de Cultura trabalha para a promoção do modo de ser dos povos tradicionais de origem africana e açoriana em seus festejos, danças, músicas, gastronomia e agricultura.

Os três diretores possuem experiência com documentários de temática socioambiental, e também transitam por outras formas expressões artísticas, como teatro. Bruna Giuliatti é formada pelo TECCINE. Assim, como ela, outras mulheres formadas no curso de produção audiovisual da PUCRS que dirigiram longas são: Amanda Copstein (universitário), Pia Azevedo, Luciana Mazeto, Iuli Gerbase. Durante sua estreia oficial, no 50° Festival de Gramado, em 2022, Campo grande é o céu recebeu uma menção honrosa na categoria de longas gaúchos – Prêmio SEDAC/IECINE – "pelo resgate da tradição de cantorias e da importância das comunidades quilombolas daquela região do Rio Grande do Sul".

Sinopse


Residentes de comunidades quilombolas no sul do Brasil lutam para manter viva a tradição de cantoria dos Ternos de Santos Padroeiros e outras heranças de seus ancestrais.

Sinopse desenvolvida:
De noite, em Colodianos, pequena comunidade rural do interior do Rio Grande do Sul, quatro indivíduos circulam pelas ruas, munidos de seus respectivos violões. Chegam próximos de uma residência, e iniciam uma animada cantoria, que chama a atenção dos moradores. No dia seguinte, em meio a um dia de sol e calor, um velho agricultor comenta que a tradição de cantar os Ternos sempre existiu, e que ele se interessou pela prática quando ainda era pequeno. Ao ser questionado se recorda das letras, começa a recitar uma – mas não vai até o final, alegando nervosismo. Posicionado em uma plantação de milho, ele relembra sua trajetória de vida, mencionando que o pai era empregado de um fazendeiro local. A avó era natural de Pernambuco, e teria vindo para o sul após obter a alforria da escravidão.

Outro idoso, residente em Teixeiras, comenta que nasceu em 1929. Recorda de sua infância, quando ouvia pessoas cantando nas ruas, pedindo para entrar nas casas. Quando o convite era aceito, iniciava-se o baile: "Muito bom", resume. Quando começaram a surgir os salões de baile, ele registra que a tradição de cantar os Ternos foi ficando um pouco esquecida. Em Casca, um trabalhador questiona as pessoas acerca de uma adivinhação. Quer saber se elas sabem o sentido figurado de campo grande, gado miúdo, moça formosa e homem rabudo. Diante da impossibilidade de acerto, ele responde que "campo grande é o céu, gado miúdo são as estrelas, moça formosa é a lua, homem rabudo é o sol". O Sol seria fácil de acertar, "já que está sempre nos queimando", sugere.

Dentro de uma propriedade, uma dona de casa prepara o almoço, e diz que também canta os Ternos, ainda que esteja ainda aprendendo. Ela escutava as cantorias desde pequena, sendo que seu pai era o mestre dos Ternos, responsável por armazenar os papéis com as letras. Por sua vez, um senhor humilde comenta as perigosas brincadeiras nas quais se envolveu quando era criança naquelas terras – incluindo "Intrude", que consistia em ter que fugir do arremesso de farinha de trigo, ovos e até mijo chucro. O homem brinca que uma vizinha, de mesma idade, muito o "judiou". A comunidade se reúne, e começa a caminhar, cantar. Elas foram reunidas pela dona de casa, que convidou a todos para cavarem uma plantação de batatas.

Cartelas finais:
// Os ternos de reis, de São Pedro, de São João, de Santo Antônio e de Santana são uma tradição dos povos tradicionais descendentes de açorianos e africanos da península do litoral norte – São José do Norte, Tavares, Mostardas e Palmares do Sul. //
// Diversas fazendas e empresas ainda são autuadas pela Delegacia Regional do Trabalho e pelo Ministério Público do Trabalho por trabalho análogo à escravidão na região. Em 2014, uma fazenda centenária de uma família escravocrata foi punida e parte da pena monetária do termo de ajustamento de conduta foi direcionado para a construção da sede social da comunidade quilombola Dona Quitéria da Casca. //
// A comunidade Beco dos Colodianos ocupa hoje em torno de 430 hectares mas ainda faltam 2.800 hectares para serem reparados.
A comunidade quilombola dos Teixeiras ocupa hoje em torno de 500 hectares, mas tem direito a aproximadamente 4.000 hectares.
A comunidade quilombola Dona Quitéria da Casca ocupa hoje em torno de 1.600 hectares, mas ainda restam 600 hectares para serem reparados. //

Ficha técnica


IDENTIDADES
Alvair Figueira Vieira, Alzira Maria Lopes, Antônio Lopes de Matos 'Mestre Zango', Antônio Roberto Lopes Oliveira, Clélia Maria Lopes da Rosa, Domingos Batista de Bitencourt, Élio João Vieira, Ernesto Otacílio Dias da Costa, Felipe Lopes da Rosa, Guilherme Rosa da Silva, João Raquel de Bitencourt, José Lopes da Rosa 'Zé da Gaita', Letícia da Rosa Bitencourt, Lucília Lopes da Rosa, Manoel Batista de Bitencourt, Maria Antonia Oliveira, Maria da Graças Ferreira dos Santos, Nedi Bitencourt da Silva, Neuza Terezinha Rosa da Silva, Osvaldo Lopes da Rosa, Solange dos Santos Gomes, Tatiane Lopes de Mattos da Costa, Wagner Ferreira dos Santos.

DIREÇÃO
Direção: Bruna Giuliatti, Jhonatan Gomes, Sérgio Guidoux.

ROTEIRO
Roteiro: Bruna Giuliatti, Jhonatan Gomes, Sérgio Guidoux.

PRODUÇÃO
Produção: Bruna Giuliatti, Sérgio Guidoux, Tadeu Cardoso da Perciúncula.
Produção executiva: Bruna Giuliatti, Sérgio Guidoux.
Assistência de produção executiva: Juliana Pereira.
Alimentação: Tatiane Mattos.

FOTOGRAFIA
Direção de fotografia: Ieve Holthausen, Sérgio Guidoux.

SOM
Som direto: Bruna Giuliatti, Sérgio Guidoux, Tiziana Scur.

MÚSICA
Trilha musical: Grupo de Cantores de Terno Dona Quitéria da Casca e Grupo de Cantoras de Terno As Filhas do Didé.
Trilha incidental no acordeon: Gabriel Romano.

Músicas:
• "Terno de São João da Casca" por Domingos Batista de Bitencourt, João Raquel de Bitencourt, José Lopes da Rosa 'Zé da Gaita', Osvaldo Lopes da Rosa
• "Terno de Reis da Casca" por Antônio Lopes de Matos 'Mestre Zango', Clélia Maria Lopes da Rosa, Domingos Batista de Bitencourt, José Lopes da Rosa 'Zé da Gaita', Letícia da Rosa Bitencourt, Nedi Bitencourt da Silva, Osvaldo Lopes da Rosa, Tatiane Lopes de Mattos da Costa
• "Terno de Santana da Casca" por Antônio Lopes de Matos 'Mestre Zango', Domingos Batista de Bitencourt, José Lopes da Rosa 'Zé da Gaita', João Raquel de Bitencourt, Manoel Batista de Bitencourt
• "Linda bancária" (Tião Carreiro, Lourival dos Santos) por Tião Carreiro e Pardinho // Gentilmente cedido pela Warner Music Brasil Ltda., uma empresa Warner Music Group

FINALIZAÇÃO
Montagem: Sérgio Guidoux.
Assistência de montagem: Isabel Cardoso.

Colorista e finalização: Sérgio Guidoux.

Desenho de som: Fernando Efron, Sérgio Guidoux.
Efeitos de som: Carina Levitan.
Edição de diálogos: Augusto Stern.
Foley: Ivan Lemos.
Edição de foley e ambiências: Sérgio Guidoux.
Mixagem: Fernando Efron.

EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS
Estúdio de pós-produção de som: Bunker Sound Design (Porto Alegre).

MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: Meio do Mundo Filmes (Porto Alegre).
Realização: Ponto de Cultura do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mostardas-RS – Trabalhadores unidos sindicato forte.
Rede RS Pontos de Cultura / Cultura viva – Cultura, educação e cidadania.        
Financiamento (BR/RS): Chamada Pública SEDAC nº 12/2020. Edital Criação e Formação – Diversidade das Culturas. Parceria: Fundação Marcopolo – Iniciativas que transformam o futuro; SEDAC Secretaria de Estado da Cultura / Governo do Rio Grande do Sul – Novas façanhas na cultura; Lei Aldir Blanc Lei nº 14.017/2020 – Secretaria Especial da Cultura / Ministério do Turismo / Governo Federal – Brasil – Pátria amada. Responsável (pessoa jurídica): Tadeu Cardoso da Perciúncula. Segmento: Culturas Populares. Corede: Litoral. Cidade: Mostardas. Valor: R$ 50.000,00; contemplado com o título de: Ternos de santos padroeiros – A cultura viva.

AGRADECIMENTOS
Agradecimentos: Associação Comunitária Dona Quitéria, Dani Eizirik, Daniel de Bem, Flora Jones, Gabriel Faccini, Júnior Barbosa, Marcos Lopes, Natália Doncato, Nelson Diehl, Nilo José Lopes de Matos, Othon Veloso Schenatto, Richard Tavares, Tatiana Nequete, Terezinha de Jesus da Costa Lemos, Tuane Eggers, Valtor Bitencourt da Silva.

Dedicatória: Em memória de Élio João Vieira, o seu Leto, da comunidade quilombola do Beco dos Colodianos – 1933-2021.

FILMAGENS
Brasil / RS, município de Mostardas, nas comunidades quilombolas dos Teixeiras, da Casca e do Beco dos Colodianos.
Período: maio e agosto de 2021.

ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: 1:10:28
Som:
Imagem: cor
Proporção de tela: 1.85
Formato de captação:
Formato de exibição:

DIVULGAÇÃO
Cartaz: Antonio.

PREMIAÇÃO
• 50º Festival de Cinema de Gramado 2022: 2º Prêmio SEDAC/IECINE da Mostra Competitiva Longa-metragem Gaúcho: menção honrosa, pelo resgate da tradição de cantorias e da importância das comunidades quilombolas daquela região do Rio Grande do Sul.
• 13º Festival Internacional de Cinema da Fronteira 2022: melhor direção.

DISTRIBUIÇÃO
Classificação indicativa:
Contato:

OBSERVAÇÕES
Cf. créditos iniciais: // Documentário idealizado pelo Ponto de Cultura do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mostradas (RS), que integra a Rede Cultura Viva desde 2014 e trabalha para a promoção do modo de ser dos povos tradicionais de origem africana e açoriana em seus festejos, danças, músicas, gastronomia e agricultura. //
Créditos finais: // Porto Alegre / Mostardas – Inverno de 2022. //

Títulos alternativos: Ternos de santos padroeiros – A cultura viva | Canto aberto (título de trabalho)
Grafias alternativas: Tião | Lourival
Grafias alternativas (funções): Tratamento de cor | Artista de foley

BIBLIOGRAFIA

Exibições


• Gramado (RS), 50º Festival de Cinema de Gramado [12-20 ago]-Mostra Competitiva Longa-metragem Gaúcho, Palácio dos Festivais, 15 ago 2022, seg, 14h

• Bagé (RS), 13º Festival Internacional de Cinema da Fronteira [8-11 dez]-Mostra Competitiva Internacional de Longas-metragens, Centro Histórico Vila de Santa Thereza-Teatro Santo Antônio (Av. Visconde Ribeiro de Magalhães), 9 dez 2022, sex, 19h

Como citar o Portal


Para citar o Portal do Cinema Gaúcho como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
Campo grande é o céu. In: PORTAL do Cinema Gaúcho. Porto Alegre: Cinemateca Paulo Amorim, 2024. Disponível em: https://www.cinematecapauloamorim.com.br//portaldocinemagaucho/1570/campo-grande-e-o-ceu. Acesso em: 19 de maio de 2024.