Quero ser feliz (1986)

Brasil (RS)
Longa-metragem | Ficção
35 mm, cor, 71 min

Direção: Sergio Lerrer.
Companhia produtora: Z Produtora Cinematográfica Ltda.

Primeira exibição: Florianópolis (SC), 11 abr 1986, sex (pré-estreia)
Primeira exibição RS: Porto Alegre (RS), Scala, 9 maio 1986, sex, 22h (pré-estreia para crítica e convidados)

 

Quero ser feliz é o último filme da Z Produtora Cinematográfica, uma empresa fundamental para a renovação do audiovisual gaúcho, na década de 1980. Ela foi responsável por obras como Verdes anos (C. Gerbase, G. Assis Brasil, 1984), Me beija (W. Schünemann, 1984) e Aqueles dois (S. Amon, 1985). Idealizada por Sergio Lerrer, a companhia surgiu no mercado com a proposta de lançar cerca de dois longas-metragens por ano, fazendo sua divisão de lucros através de uma sociedade de cotas. Para que o negócio fosse sustentável, era preciso que o retorno das bilheterias fosse proporcional aos investimentos – conta sempre difícil de ser alcançada. Com 90 mil espectadores no sul do Brasil, a repercussão não foi suficiente para evitar o fechamento da Z, que já vinha abalada por muitas dívidas e desentendimentos entre os sócios. A produtora nunca quis depender de apoio estatal.

Em texto enviado para o jornal Pioneiro por ocasião do lançamento do filme, Lerrer comenta que sempre se enxergou como um artesão, que viabilizou muitos trabalhos com publicidade, super-8, curtas e longas em 35 mm – sem a pretensão de se tornar um grande diretor. Seu foco sempre foi ajudar a contar histórias, de uma forma autêntica e humana. Fã confesso do cinema norte-americano, ele admitiu que teve inspiração nos filmes hollywoodianos sobre o universo jovem, aqueles com várias turmas, aventuras, empolgações e inconsequências, no estilo rebeldia sem causa. O mérito desses roteiros, em sua avaliação, era falar de jovens anônimos, perdidos, sem rumo, aparentemente comuns – mas ricos nas suas individualidades. Algo que, no cinema brasileiro, ele encontrou paralelo apenas em produções isoladas como Marcelo Zona Sul (Xavier de Oliveira, 1970) ou Copacabana me engana (Antonio Carlos da Fontoura, 1969).

Em Quero ser feliz, o protagonismo é dividido entre três rapazes de classe média, que residem em Porto Alegre. Amigos, eles possuem a mesma idade e experimentam os mesmos problemas. Marcelo está desesperado com o fato de estar completando 18 anos, pois teme ser convocado para o serviço militar obrigatório. Ele não trabalha nem estuda, e é cobrado pelos pais a definir um rumo para a vida. A curto prazo, no entanto, o que ele mais deseja é arranjar uma namorada. Marco, por sua vez, está sempre pulando de um emprego para outro, sem jamais conseguir ter certeza sobre o que quer para o futuro. A mesma instabilidade se reflete na sua vida privada: mesmo estando em um relacionamento amoroso com uma garota, ele não deixa de ter interesse na irmã dela (até por ser correspondido). Roberto, finalmente, é o único a ter uma situação mais ou menos estabilizada: atua como projecionista em um pequeno cinema – e acaba sendo o único convocado para se apresentar no quartel. O problema é que ele não demonstra interesse em nenhuma das duas atividades. O cartaz dizia: "Cada um deles é um pouco de todos nós".

O maior destaque do elenco é Marcos Breda (na época ainda creditado como Marco Antônio Breda). Seu personagem (Marcelo) acaba ocupando o maior tempo de tela, especialmente a partir do momento em que engata um romance imprevisível com Fernanda (interpretada pela jovem Mayara Magri). A moça é a irmã de Marco (Fernando Severino), o que gera algum estranhamento entre os amigos. Ator de teatro, premiado com o Açorianos 1983 por Segundo tempo e depois integrante do Grupo Tear em Partituras (1989-1991) e Kalldewey – A farsa do convidado obsceno (1992), Severino – falecido – não teve muita visibilidade no audiovisual gaúcho. O cantor e compositor Julio Reny, pouco tempo depois de aparecer em Verdes anos, volta como o projecionista Roberto. Uma cena interessante é quando menciona a magia que toma conta de um cinema a partir do momento em que as luzes se apagam. E outras como o processo de criação da emblemática canção "Amor e morte", quase como valor de documentário. A trilha sonora promove uma boa mescla de nomes consagrados (Beatles, Simon & Garfunkel, Barry White) com bandas locais (Engenheiros do Hawaii, Garotos da Rua, TNT).

Segundo o Dicionário de filmes de brasileiros (2002), de Antônio Leão, este foi o primeiro filme gaúcho realizado em vídeo a ser transposto para película. Outra curiosidade é o fato de muitos cinemas de Porto Alegre terem sido utilizados como cenários, como as salas Victoria, Cacique e Colombo. A recepção foi morna perante a crítica especializada. Maria do Rosário Caetano avaliou que o filme não trazia "grandes ousadias" e estava mais interessado em "sensibilizar o público juvenil". Apesar de ter circulado por festivais como o Rio Cine, o jornal Correio Braziliense relatou uma grave falha: inscrito para o Festival de Brasília, Quero ser feliz não pôde ser exibido por "falta de cópia". Diante de muitas adversidades, a Z Produtora Cinematográfica logo entraria em falência. Seus dois últimos projetos, cancelados, seriam uma história de amor situada em Santa Catarina e uma releitura do movimento tradicionalista.

Em seguida, Sergio Lerrer se mudaria para São Paulo, seguindo exitosa carreira na comunicação – assinaria ainda mais um longa, De cara limpa (2000, com Bárbara Paz). Ele dedicou Quero ser feliz a muitas pessoas que conheceu, ao longo de sua trajetória: "Eu escrevi e fiz esse filme não para aqueles meus colegas de militância política ou militância cinematográfica, mas sim para aqueles meus amigos que jogavam uma 'pelada' na pracinha, ficavam sentados no muro da rua, davam uma volta na quadra, procuravam o mais novo cabaré da cidade e achavam que só por isso aí a vida já valia a pena e não precisava ser mais do que isso. E é para eles, aos que serviram ou não no quartel, aos que num momento foram ascensoristas ou estudantes de medicina, aos 'garanhões' e aos tímidos, aos que batiam e aos que apanhavam, hoje espalhados como espectadores nas salas escuras dos cinemas, que eu dedico essa minha vontade desambiciosa que terminou se transformando nesse filme".

Sinopse


Crônica do cotidiano de três amigos adolescentes que, em conflito com o mundo em que vivem, procuram novas perspectivas para suas vidas.

Ficha técnica


ELENCO
Marcos Breda, Mayara Magri,
Julio Reny, Fernando Severino,
Nelson Ribas, Renato Arnold, Leverdógil de Freitas, José Baldissera,
Vera Lúcia Carlotto, Jaime Ratinecas, Cristina Thedy, Darlene Marques,
Ana Vielinski Pizzamiglio, Amélia Bittencourt, Luciane Braile, Silvia Levi, Mauro Dy Córdoba,
Noemi Dias da Silva, Rafaela Martins, Júlio Leonardi, Rosângela Castro Oliano,
Paulo Pedott, Sidney Quintian, Mareu Nitschke, Edu K.
Figuração: Ta...? Pacheco, Jaime ...? Pacheco, Marcio Noronha, Anamaria Trarbach, Ana Lucia Ribeiro, Lauro Antonio dos Santos, Denise?, Cristina Proença, Sandra Helena?, Maria Helena Pontual, Carla Valentine, Valter José dos Santos, ? Helena Schmidt, Fábio ?, Aurélio M. ??, Alexandre Costa Rautter, Leandro Godoy, Dejair F. Figueira, Marcos Barreto, Elaine Cristina Martins, Margareth Emília, Maria Alice Paz, Wilson Severo da Rocha, Carla ? da Fé, Fausto? Gabriel Paz, Denise Remião Lopes, Carla Roseana Mammarella, André Boll, Julio Caetano Pereira.
Voz adicional: Renato Marco Bonfim.

DIREÇÃO
Direção: Sergio Lerrer.
Continuidade: Maira Laux, Anamaria Trarbach.

ROTEIRO
Roteiro: Sergio Lerrer.

PRODUÇÃO
Produção: Cesar Michel, Paulo Baldo, Sergio Lerrer.
Produção executiva: Manduca Quadros.
Assistência de produção: Anamaria Trarbach, Vítor Abreu, Fernando Mantelli.
Produção técnica: Paulo Sérgio Krás Borges.
Produção de elenco: Liane Müller.
Marketing: Cesar Michel.

FOTOGRAFIA
Direção de fotografia: Antonio Oliveira.

Fotografia de cena: Rogerio Medeiros Soares.

ARTE
Cenografia e figurino: Nice Sordi.
Produção de arte: Nice Sordi.

SOM
Som-guia e claquete: Liane Müller.

MÚSICA
Música especialmente composta por: Mario Leopoldo dos Santos Júnior.

Músicas (ordem de inserção, não creditadas):
• "A Hard's day night" (John Lennon, Paul McCartney) por The Beatles [LP: A Hard's day night, 1964; faixa A1]
• "Can't buy me love" (John Lennon, Paul McCartney) por The Beatles [LP: A Hard's day night, 1964; faixa A7]
• "And I love her" (John Lennon, Paul McCartney) por The Beatles [LP: A Hard's day night, 1964; faixa A5]
• "Ticket to ride" (John Lennon, Paul McCartney) por The Beatles [LP: Help!, 1965; faixa A7]
• "Let it be" (John Lennon, Paul McCartney) por The Beatles [LP: Let it be, 1970; faixa A6]
• "Get back" (John Lennon, Paul McCartney) por The Beatles [LP: Let it be, 1970; faixa B5]
• "You're going to lose that girl" (John Lennon, Paul McCartney) por The Beatles [LP: Help!, 1965; faixa A6]

• "Entra nessa" (Charles Master, Flávio Basso) por TNT [LP: TNT, 1987, faixa B3]
• "Amor e morte" (música: Julio Reny, letra: Jaqueline Vallandro) por Julio Reny
• "Tô de saco cheio" (Bebeco Garcia, Carlos Caramez) por Garotos da Rua [LP: Garotos da Rua, 1986; faixa B5]
• "Quero que vá tudo pro inferno" (Roberto Carlos, Erasmo Carlos)
• "Segurança" (música, letra: Humberto Gessinger) por Engenheiros do Hawaii [LP: Longe demais das capitais, 1986; faixa A2]
• "Mrs. Robinson" [from the motion picture The Graduate] (música, letra: Paul Simon) por Simon & Garfunkel [LP: Bookends, 1968; faixa B3]
• "The Sounds of silence" (música, letra: Paul Simon) por Simon & Garfunkel [LP: Sounds of silence. 1966; faixa A1]
• "Beware" (música, letra: Jo Ann Belvin) por Barry White [LP: Beware!, 1981; faixa A1]
• "Quero ser feliz" (música, letra: Mario Leopoldo dos Santos Júnior) por Glória Oliveira
• "Sopa de letrinhas" (Humberto Gessinger, Marcelo Pitz) por Engenheiros do Hawaii [LP: Longe demais das capitais, 1986; faixa B6]
• "Amor e morte" [reprise; integral]
• "Quero ser feliz" [reprise]
• "Corpos na relva" (música, letra: Mario Leopoldo dos Santos Júnior) por Glória Oliveira [créditos finais]

FINALIZAÇÃO
Montagem: Manduca Quadros.

Produção gráfica [incluindo créditos]: Paulo Baldo, Adão Iturrusgarai, Roseli Tesch. Fotolitos Marzec Ltda..

Técnicos de som: Carlos Antonio Bonfim, Pedro Roberto Rosa.

MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: Z Produtora Cinematográfica Ltda. (Porto Alegre).
Apoio: Gang; Petrobras; Malt 90; Fotolitos Marzec Ltda. (R. Dr. Timóteo, 258).

AGRADECIMENTOS
Agradecimentos: 3º BPE Batalhão de Polícia do Exército, Grazziotin S.A., Lojas Disul Cosméticos, Ovo de Colombo, Família Oliveira Liz, Família Ney Krás Borges, Fliper Show, 1º BPM Batalhão de Polícia Militar, Girassol Vídeo, Objetiva Filmes, Gráfica Fundação da Produtividade, Água na Boca, Ed. Solar Ricaldone, A Discoteca, Cine Victoria, Cine Cacique, Posto Ferradura, Bar e Restaurante João de Barro, Xicão Tofani, Brigada Militar de Porto Alegre, Faculdade de Veterinária da UFRGS.

FILMAGENS
Brasil / RS, em Porto Alegre, em lugares como: Danceteria Ovo de Colombo (antigo Cinema Colombo), Cine Victoria, Cine Cacique.
Período: agosto de 1985 a janeiro de 1986.

ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: 71 min
Metragem:
Número de rolos:
Som:
Imagem: cor
Proporção de tela: 1.33
Formato de captação: 35 mm
Formato de exibição: 35 mm

DIVULGAÇÃO
Assessoria de imprensa: Marilaine Castro da Costa.

DISTRIBUIÇÃO
Classificação indicativa: 14 anos.
Distribuição:
VHS: Distribuição: São Paulo: Transvídeo T 096, s.d., com duas capas diferentes.

OBSERVAÇÕES
Créditos da cópia selada em VHS não informam companhia produtora; contracapa do VHS acresenta: Z Produção. Leão, 2009, p.851 indexa: Z Produtora Cinematográfica, adotado no Portal.
Créditos da cópia VHS analisada de difícil leitura, por isso as interrogações em figuração.
Cf. Leão, 2009, p.852, "primeiro filme gaúcho realizado em vídeo e transposto posteriormente para película".
90 mil espectadores no sul.
Cf. créditos finais: // Esta é uma estória de ficção. Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência. //
Os outros sete filmes da Mostra Competitiva do Rio Cine são: Céu aberto (João Batista de Andrade), Brasa adormecida (Djalma Limongi Batista), O Despertar da besta (José Mojica Marins), Yawar Mayu (Araken Vaz Galvão), As Sete vampiras (Ivan Cardoso), Cidade oculta (Chico Botelho), Chico rei (Walter Lima Júnior).
Em créditos finais: // Músicas do filme: Julio Reny e Expresso Oriente, Engenheiros do Hawaii, Garotos da Rua, Os Eles, Mario Leopoldo dos Santos Júnior. // sem especificar títulos e autoria.

Títulos alternativos: Eu quero ser feliz | Porque hoje é sábado
Grafias alternativas: André Bool | Marco Antônio Breda | Sergio Lerrer e Sergio D. Lerrer | Engenheiros do Hawai | Cine Vitória (cf. créditos)

BIBLIOGRAFIA
Cinema gaúcho – Anos 80: um olhar sobre a década. Porto Alegre: Secretaria Municipal da Cultura, Associação Profissional dos Técnicos Cinematográficos do Estado do Rio Grande do Sul-APTC-ABD-RS, 1991. 28p. il.

Noticiário:
COZZATTI, Luiz César. Quero ser feliz – Pré-estreia de uma comédia jovem. Zero Hora, Porto Alegre, 9 maio 1986, Programa, p.4.
Queremos ser felizes / Depoimento do diretor. Pioneiro, Caxias do Sul, 13 jun 1986, Segundo Caderno – Movimento.
CAETANO, Maria do Rosário. Produção nacional em baixa. Correio Braziliense, Brasília, 19 ago 1986, Aparte, p.22.
Quero ser feliz no Cine Luz. Correio de Notícias, Curitiba, 20 fev 1987, 2º Caderno.
"Meus caprichos de autor correm em segundo plano" – Entrevista com Sergio Lerrer. Filme Cultura [Diretores estreantes – 27 depoimentos sobre a experiência de realizar o primeiro longa-metragem], Rio de Janeiro, nov 1988, p.120-123, n.48.

Crítica:
BECKER, Tuio. Cinema gaúcho: duas propostas. Caderno de Crítica, Rio de Janeiro, nov 1986, p.55-56, n.2.
CUNHA, Wilson. Quero ser feliz. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22 ago 1986, Caderno B, p.2 [BN, p.39], ano XCVI, n.136.
Quero ser feliz. Correio de Notícias, Curitiba, 14 fev 1987, 2º Caderno, p.9, ano VI, n.1.697.
Quero ser feliz, um filme independente da Z Produtora. Correio de Notícias, Curitiba, 25 fev 1987, 2º Caderno, p.9, ano VI, n.1.706.

Exibições


• Florianópolis (SC), 11 abr 1986, sex (pré-estreia)

• Porto Alegre (RS), Scala, 9 maio 1986, sex, 22h (pré-estreia para crítica e convidados)

• Porto Alegre (RS), Scala, 16-22 maio 1986, sex-qui, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h

• Porto Alegre (RS), Astor, 16-22 maio 1986, sex-qui, 15h, 20h, 22h

• Porto Alegre (RS), Ritz, 16-22 maio 1986, sex-qui, sex, 20h, 22h

• Florianópolis (SC), 1 sala, 16-22 maio 1986, sex-qui

• Caxias do Sul (RS), Cine Imperial,
13-19 jun 1986, sex, 20h15, sab, 19h30, 21h30, dom, 14h, 19h30, 21h30, seg-qui, 20h15
20-26 jun 1986, sex, 20h15, sab, dom, 19h30, 21h30, seg-qui, 20h15

• Rio de Janeiro (RJ), 2º Rio Cine Festival [18-23 ago]-Mostra Competitiva,
Palácio Sala 1 (R. do Passeio, 40), 21 ago 1986, qui, 16h30
Ricamar (Av. N. S. Copacabana, 360), 22 ago 1986, sex, 14h, 19h

• Curitiba (PR), Cine Luz (XV de Novembro, 822),
19-25 fev 1987, qui-qua, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h
26 fev-5 mar 1987, qui-qui, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h

Como citar o Portal


Para citar o Portal do Cinema Gaúcho como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
Quero ser feliz. In: PORTAL do Cinema Gaúcho. Porto Alegre: Cinemateca Paulo Amorim, 2024. Disponível em: https://www.cinematecapauloamorim.com.br//portaldocinemagaucho/245/quero-ser-feliz. Acesso em: 19 de maio de 2024.