23/06/2023
2023Salas de exibiçãoCanoasFestivais

Histórias das salas de cinema de Canoas

 

Boa noite a todos.

Primeiramente, gostaria de agradecer Monique Leotte Mendes, Pamela Trindade e, especialmente, ao meu querido amigo, diretor, cineasta e parceiro de tantos trabalhos publicitários e cinematográficos, Alexandre Derlam, idealizadores e organizadores do 1º Festival de Cinema de Canoas, por me darem a oportunidade de homenagear minha família.

Eu comentei com Alexandre que seria impossível falar em cinema, na cidade de Canoas, sem falar das famílias Busato e Capoani, que são responsáveis pela construção e administração de cinco salas de exibição de cinema em Canoas e outra em Esteio, entre as décadas de 50 e 70, e que contribuíram, de forma relevante, à cultura do cinema nestas cidades e no estado do Rio Grande do Sul. Como já foi dito aqui, ontem, o cinema surgiu em Canoas na década de 10, mais precisamente, em 1914, no então distrito de Gravataí, quando foi inaugurado o Cine Porcello, onde Oswald Kessler Ludwig montou um projetor atrás de sua farmácia. Com auxílio de um motor, as projeções eram realçadas pelo som de um bandoneon que, com o tempo, somaram-se os sons de violão e violino. E, por fim, Vicente Porcello adquiriu uma pianola, que era tocada por sua filha Henriqueta, lembra Antonio Jesus Pfeil, nobre homenageado de ontem.

O cinema se tornou um negócio lucrativo em todo o mundo e também em Canoas. Assim, no início dos anos 20, surgia o Cinema Central. O concorrente ficava quase na frente do Cine Porcello, porém do outro lado dos trilhos, na Avenida Guilherme Schell. Seu proprietário, Arthur Pereira de Vargas, não poupou dinheiro no "casarão de madeira". Instalou inicialmente cadeiras avulsas para logo depois colocar poltronas. As exibições aconteciam sempre aos domingos, às 20 horas, e causavam furor. O apogeu durou até meados dos anos 50. E é aí que começa a história das famílias Busato e Capoani.

A minha viagem pelos cinemas começa nos anos 50. Para quem não lembra, foi o período em que, lá fora, a televisão começou a invadir os lares. Foi necessário, portanto, que o cinema crescesse. Em todos os sentidos. A época de superespetáculos de Hollywood trouxe também ao Brasil e a Canoas toda a pompa e o glamour de Hollywood. Se do lado de lá da tela, quem dominava a atenção eram épicos de grande porte como Ben-Hur, do lado de cá foram duas famílias que garantiram o entretenimento na cidade.

Foi graças à parceria dos Busato com os primos Capoani que o cinema ganhou vida entre os anos de 50 e 70. Tudo teve início em 1950, quando foi inaugurado na Avenida Getúlio Vargas o Cine Teatro São Luiz. Ideia de meu avô, Francisco Busato Filho, que trabalhava com lenha no interior do Estado, mas mudou radicalmente de negócio ao vir para cá e observar o sucesso que o cunhado estava fazendo ao montar uma sala de cinema em Esteio. Até 1975 o São Luiz foi o principal cinema de Canoas. Localizado na faixa federal, bairro Niterói, com seus cerca de 1.200 lugares, cadeiras de madeira, uma boa tela protegida por uma cortina de mensagens publicitárias, bons projetores e som. E tinha o gongo que assinalava o início da projeção, acima do telhado, que entrava no ar uma hora antes das matinês e das sessões noturnas, divulgando a programação.

O sucesso foi tamanho que a Empresa de Cinemas Capoani, Busato & Cia. Ltda estendeu a parceria para a construção do suntuoso Cine Rex, no centro. Depois, vieram o Cine Niterói, Cine Rio Branco, localizados nos bairros de mesmo nome, e o Cine Vitória. Naqueles tempos, o aluguel de um filme custava uma fortuna. Por isso, era preciso fazer o maior número de exibições possíveis para faturar. Francisco Busato, então, inovou ao ter a ideia de exibir um único filme em três cinemas diferentes quase ao mesmo tempo. E funcionava. Acontece que um filme vinha em vários rolos, filmes em acetato, seis ou sete em geral. Assim, era necessário marcar o início da exibição para três horários diferentes: 19h, 19h30, 20h. A partir daí, quando terminasse o primeiro rolo de um filme, ele era levado de caminhonete em velocidade até o outro cinema onde começava a ser exibido e assim por diante. Era uma verdadeira aventura fora da tela. Coisa de cinema!! Uma luta desesperada contra o tempo.

Meu pai, Luiz Jeronymo Busato, filho de Francisco, era o gerente de toda a rede. Nasci em 1959. Por isso, costumo dizer que apesar de minha formação científica – professor de química – sou um apaixonado pelo cinema. Digo que nasci numa poltrona de cinema. Por isso, estudei teatro, interpretação e me tornei também ator, o que também foi fundamental para minha profissão como professor. Mais uma vez, parabéns, Alexandre, Monique e Pamela pela grande iniciativa. Voltemos a respirar cultura, viva o incentivo, viva o cinema, viva Canoas e viva o Festival de Cinema de Canoas.

Obrigado!

Carlos Busato

Teatro do Sesc Canoas, 23 de junho de 2023, sexta-feira
1° Festival de Cinema de Canoas, 22-24 jun 2023, qui-sab

Carlos Busato faz parte do elenco de O Homem que copiava: é o gerente do banco em cena com Luana Piovani.

Texto e fotografias gentilmente cedidos para a Cinemateca Paulo Amorim / Portal do Cinema Gaúcho.

 

    

         

                        
                       Francisco Busato Filho e Luiz Jeronymo Busato, avô e pai de Carlos Busato.

Salas de cinema de Canoas em nov 2023:

Cinemark Canoas Shopping Sala 1 (190 poltronas)
Cinemark Canoas Shopping Sala 2 (354 poltronas)
Cinemark Canoas Shopping Sala 3 (335 poltronas)
Cinemark Canoas Shopping Sala 4 (214 poltronas)
Cinemark Canoas Shopping Sala 5 (216 poltronas)
Cinemark Canoas Shopping Sala 6 (336 poltronas)
Cinemark Canoas Shopping Sala 7 (349 poltronas)
Endereço: Canoas Shopping, Av. Guilherme Schell, 6.750

UCI Park Shopping Canoas Sala 1
UCI Park Shopping Canoas Sala 2
UCI Park Shopping Canoas Sala 3
UCI Park Shopping Canoas Sala 4
UCI Park Shopping Canoas Sala 5
UCI Park Shopping Canoas Sala 6
UCI Park Shopping Canoas Sala 7
Endereço: Park Shopping Canoas, Av. Farroupilha, 4.545, Marechal Rondon
Inauguração: 24 nov 2017