O Crime dos Banhados (1914)

Brasil (RS)
Longa-metragem silencioso | Ficção
35 mm, pb, c.40 min

Direção: Francisco Santos.
Companhia produtora: Fábrica de Fitas Cinematográficas Guarany

Primeira exibição: Pelotas (RS), Coliseu Pelotense, 25 fev 1914, qua (para a imprensa)

 

Filme desaparecido.
Quando os oito corpos da família foram encontrados em 29 de abril de 1912, provavelmente já fazia mais de duas semanas que a horrorosa hecatombe tinha acontecido na Fazenda Passo da Estiva, localizada nos Banhados, no Taim, 4º Distrito do Rio Grande. A família era composta pelo casal Clementina e Manoel e os seis filhos pequenos, sendo que a mulher estava grávida. A investigação do crime pelas autoridades locais foi morosa e inconclusiva e os reais motivos políticos foram escamoteados. Os produtores desta época perceberam que histórias como estas caiam no gosto do público e uma série de filmes criminais baseados em fatos reais foram lançados: O Crime da mala, O Crime dos Cravinhos etc.. A Fábrica de Fitas Cinematográficas Guarany em sintonia com esta tendência já tinha produzido O Marido fera ou O Crime de Bagé. O crime dos Banhados era um assunto que se encaixava na estratégia da produtora pelotense. Então Francisco Santos reuniu o elenco de sua companhia teatral e dramatizou os acontecimentos. Uma parte das filmagens foi em locações em Rio Grande, e quando das exibições nesta cidade ocorreram incidentes como a superlotação dos cinemas gerando confusão por parte daqueles que não conseguiam entrar. Depois da estreia de O Crime dos Banhados em Pelotas, provavelmente foram acrescidas novas partes, como um prólogo e/ou um epílogo, somando "840 belíssimos quadros", mencionados em estreias em outras cidades. O acréscimo de novas partes originou o equívoco de que o filme seria dividido em duas séries, o que não aconteceu.

Sinopse


Quatro "extensas" partes: o dinheiro; a caça; os associados; a emboscada. Reconstituição de acontecimento da crônica policial.
No Quinto Distrito do município de Rio Grande, na região dos Banhados, mais precisamente na Fazenda do Passo da Estiva, por motivos políticos, Trajano Lopes, ex-intendente de Rio Grande e chefe político situacionista – já falecido à época do crime –, manda assassinar uma família inteira.

Ficha técnica


ELENCO
Jayme Cardoso (o mocinho), 
Jorge Pinto, Graziella Diniz, Abel Pêra, Manuel Pêra, Pinto de Moraes, Ribeiro Cancella, Antonieta Cancella, Oscar Araújo, Oscar Duarte, Antonieta Duarte, Francisco Santos, Francisco Vieira Xavier (chefe dos bandidos), o menino Carlos Xavier.

DIREÇÃO
Direção: Francisco Santos.

ROTEIRO
Roteiro: Francisco Santos.

PRODUÇÃO
Produção: Francisco Santos, Francisco Vieira Xavier.

FOTOGRAFIA
Cinegrafista: Francisco Santos.

ARTE
Contrarregragem: Waldemar.
Assistência de contrarregragem: Manuel Cisneiro Albar.

MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: Fábrica de Fitas Cinematográficas Guarany (Pelotas).

FILMAGENS
Brasil / RS,
no município de Rio Grande, no local do crime;
em Pelotas, na Chácara da Baronesa e no bairro Fragata.
Período: a partir de dezembro de 1913.

ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: c.40 min na estreia em Pelotas, com 4 partes | 84? min (1.900 metros) nas estreias em Rio Grande e Porto Alegre com prólogo, 4 partes, epílogo (em Rio Grande não é mencionado o prólogo).
Metragem: 1.200 metros
Número de rolos: (4 partes)
Som: silencioso
Imagem: pb (viragem?)
Proporção de tela: 1.33
Formato de captação: 35 mm
Formato de exibição: 35 mm

OBSERVAÇÕES
Excertos do livro Os Banhados, de Dolival Moura, publicados em O Diário, Rio Grande, a partir de 8 ago 1913.
Correio do Povo, Porto Alegre, 21 e 23 mar 1914, citados por Antonio Jesus Pfeil.
Os créditos eram coloridos "predominando o vermelho e intercalando com sequência cores sépia, azul, amarela de acordo com as cenas que mostrassem luz, vegetação, noite..." (cf. MENDONÇA, 2002).
Antonio Jesus Pfeil localizou um fotograma.
Pesquisa de G. Póvoas:
na Biblioteca Rio-Grandense, Rio Grande, jan 2002 e jan 2004: O Diário, Rio Grande, jul-dez 1913, jan-jun 1914. / O Tempo, Rio Grande, jul-dez 1913. / Echo do Sul, Rio Grande, out-dez 1913, jan-jun 1914.
no Arquivo Histórico Municipal, Santa Maria, jul 2003: Diário do Interior, Santa Maria, maio 1914.

BIBLIOGRAFIA
Guia de filmes – Produzidos no Brasil entre 1911 e 1920: segundo fascículo da série Filmografia brasileira. Rio de Janeiro: Embrafilme, jun 1985, p.40.
SANTOS, Yolanda Lhullier dos; CALDAS, Pedro Henrique. Francisco Santos: pioneiro no cinema do Brasil. Pelotas: Semeador, 1995. 107p. il.
SANTOS, Yolanda Lhullier dos; CALDAS, Pedro Henrique. Francisco Santos: pioneiro no cinema do Brasil. 2.ed. Gramado: 24º Festival de Gramado – Cinema Latino e Brasileiro, 1996, p.64-72.
PÓVOAS, Glênio Nicola. Confusões, entraves, desafios na história da Fábrica Guarany. In: GUTFREIND, Cristiane Freitas; GERBASE, Carlos (org). Cinema gaúcho – Diversidades e inovações. Porto Alegre: Editora Sulina, out 2009, p.17-38.
TRUSZ, Alice Dubina. A produção cinematográfica no Rio Grande do Sul (1896-1915). In: SCHVARZMAN, Sheila; RAMOS, Fernão (org). Nova história do cinema brasileiro: volume 1. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018, p.52-89.
MENDONÇA, Cledenir Vergara. O Crime dos Banhados – Versões, construções discursivas acerca de um crime. Porto Alegre: Editora Evangraf, 2023. 159p. il. Orelhas: Francisco das Neves Alves. Apresentação 4ª edição do projeto Lei do Livro: Paulo Roberto Marin Roldão, presidente da Câmara Municipal de Rio Grande. O livre direito de pensar, por Luís Henrique Drevnovicz. Prefácio: Miguel Frederico do Espírito Santo.

Noticiário:
Uma fita. O Tempo, Rio Grande, 19 dez 1913.
Echo do Sul, Rio Grande, 19 dez 1913.
O Diário, Rio Grande, 5 mar 1914.
Anúncio. O Tempo, Rio Grande, ?? mar 1914.
O Tempo, Rio Grande, 8 mar 1914.
Theatros e diversões: Cinematógrafos – Iris. A Federação, Porto Alegre, 22 mar 1914, p.8, ano XXXI, n.68.
Anúncio. A Federação, Porto Alegre, 22 mar 1914, p.10, ano XXXI, n.68.
Artes e Diversões: Coliseu. Diário do Interior, Santa Maria, 5 maio 1914.
Artes e Diversões: Coliseu. Diário do Interior, Santa Maria, 6 maio 1914.

MENDONÇA, Cledenir. O Crime dos Banhados. Agora, Rio Grande, 1º e 2 maio 2002, O Peixeiro, p.2.

Exibições


• Pelotas (RS), Coliseu Pelotense,
25 fev 1914, qua (para a imprensa)
27 fev 1914, sex

• Rio Grande (RS), Polytheama,
7, 8 mar 1914, sab, dom, 20h, 21h30
10 mar 1914, ter
14, 15 mar 1914, sab, dom

• Rio Grande (RS), Eclair Cinema, 16 mar 1914, seg, duas sessões

• Porto Alegre (RS), Cinema Iris, 23-26 mar 1914, seg-qui

• Santa Maria (RS), Coliseu Santa-Mariense, 5 maio 1914, ter

Arquivos especiais


Noticiário e crítica:

Uma fita. O Tempo, Rio Grande, 19 dez 1913.
A Fábrica de Fitas Cinematográficas Guarany, estabelecida em Pelotas, está organizando um filme sobre o célebre crime dos Banhados, e, hoje, mandou pessoal seu para operar nesta cidade em diversas cenas da peça. O fato atraiu a curiosidade pública, na Praça General Telles e trecho da Rua Marechal Floriano em frente à mesma, onde os artistas, caracterizados nos vários personagens da fita, mais operaram. Deram-se também incidentes cômicos, de pessoas que a princípio tomaram o caso a sério, como sucedeu em frente ao chalet do Café da Armada, onde se simulou um conflito. Um dos populares que ali se achavam, assistindo ao simulacro da agressão a revólver, tentou arrebatar a arma ao suposto agressor, e outro moveu-se a chamar a polícia. Começa assim a ser feito o reclamo da fita cinematográfica para quando ela for exibida no Rio Grande.

Echo do Sul, Rio Grande, 19 dez 1913.
A cidade foi hoje tablado de um teatro: Os artistas da Fábrica Guarany reconstituem o crime dos Banhados. Correram hoje à cidade, despertando a atenção de toda a gente, até porque é a primeira vez que isto aqui se faz, os artistas da Fábrica de Fitas Guarany, dirigida pelo ator Francisco Santos.

O Diário, Rio Grande, 5 mar 1914.
4 partes e um epílogo.

Anúncio. O Tempo, Rio Grande, ?? mar 1914.
9 de março de 1914 até 10 de março grandioso filme dramático em 4 partes, 1 epílogo com 1.900 metros.

O Tempo, Rio Grande, 8 mar 1914.
É amanhã que se focalizará na tela do Polytheama a fantasia trágica concebida em torno da hecatombe dos Banhados. A avaliar pela sofreguidão de ver esta fita cinematográfica que em Pelotas atraiu verdadeiras multidões é de se esperar, amanhã, uma enchente a deitar fora no Polytheama.

Theatros e diversões: Cinematógrafos – Iris. A Federação, Porto Alegre, 22 mar 1914, p.8, ano XXXI, n.68.
Todos os nossos leitores, certamente, conhecem e ainda a conservam bem na memória a horrorosa hecatombe que se desenrolou no Rio Grande em meados do ano atrasado, conhecida pela designação de Crime dos Banhados.
Pois é a reprodução cinematográfica desse monstruoso crime que será exibida amanhã na tela deste cinema.

Anúncio. A Federação, Porto Alegre, 22 mar 1914, p.10, ano XXXI, n.68.
Cinema Iris – Segunda-feira – Segunda-feira – O Crime dos Banhados – ou Um Crime horrível, passado no 5º distrito do município do Rio Grande. Um epílogo, quatro extensas partes e 840 belíssimos quadros.

Artes e Diversões: Coliseu. Diário do Interior, Santa Maria, 5 maio 1914.
Para hoje, está anunciada a fita nacional O Crime dos Banhados, apanhada pela Fábrica Guarany, de Pelotas. Este filme, como se sabe, tem sua origem na tragédia que teve como teatro o município do Rio Grande.

Artes e Diversões: Coliseu. Diário do Interior, Santa Maria, 6 maio 1914.
Com boa assistência, foi, ontem, exibida sobre a tela daquele centro de diversões a fita de atualidade – O Crime dos Banhados, que, como é sabido de todos se passou nas proximidades da cidade do Rio Grande.

Como citar o Portal


Para citar o Portal do Cinema Gaúcho como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
O Crime dos Banhados. In: PORTAL do Cinema Gaúcho. Porto Alegre: Cinemateca Paulo Amorim, 2024. Disponível em: https://www.cinematecapauloamorim.com.br//portaldocinemagaucho/87/o-crime-dos-banhados. Acesso em: 13 de outubro de 2024.